Compras, dívidas e cia.
A cultura em que a gente vive,
consumista, imediatista, exibicionista, é um estímulo ao exagero, qualquer que
seja ele. "É um incentivo para a dificuldade de controlar os desejos, adiar
vontades, ficar sem alguma coisa que (pelo menos supostamente) vai trazer
prazer", diz Sérgio Wajman. O problema é que, no caso das compulsivas, essa
satisfação dura pouco tempo. Para as compradoras, o endividamento não demora a
bagunçar as relações familiares, afetivas e profissionais. Quem desconta as
frustrações na comida não precisa terminar o prato para se arrepender do exagero
nem tarda para desenvolver transtornos de alimentação como bulimia ou
anorexia.
A comissária de bordo paulistana Fernanda* que o diga. Entre
sapatos, roupas e uma dívida imensa, a mania de comprar custou amizades e a
confiança da família. Frequentadora de um grupo de apoio há quase dez anos, ela
hoje entende os comportamentos que levaram à doença e aprendeu a separar emoções
e dinheiro. Se está pensando em adiar para sempre a ida ao shopping, alto lá:
comprar algo por impulso de vez em quando faz parte da nossa natureza. O consumo
compulsivo, esse, sim, é um problema e afeta cerca de 5% da população mundial, a
maioria mulheres.
Meu bem, meu mal
Sentir ciúme é natural, em algum grau e
algum momento, e acomete todo mundo. O erro está em achar que ele soma
sentimento ou acrescenta charme a um relacionamento. Para o psiquiatra Eduardo
Ferreira-Santos, autor do livro Ciúme: o Medo da Perda (editora Claridade), o
ciúme é o veneno e não o tempero de uma relação. Assim como uma dor, indica que
algo está errado com a pessoa que o sente - nesse caso, geralmente insegurança
ou medo de perder o objeto do amor. Exatamente como faz a passional Aída, de
Salve Jorge, que demonstra o amor de forma desesperada, chega a seguir
o namorado e xeretar o celular dele. Se Nunes, o objeto da paixão, reclama, ela
rebate: "Te incomoda ser amado?!". E ameaça: "Se você for embora, vou me
matar!". Eduardo Ferreira-Santos é categórico. "Saudável é o cuidado com o
outro; o ciúme é negativo e egoísta, pois revela apenas a preocupação consigo
mesma."
A psicóloga Ana Márcia Mello Pereira, coordenadora do grupo de
apoio Mulheres ponto com, do Rio de Janeiro, explica que a obsessão amorosa é algo
que domina a pessoa e costuma resultar em rompimentos desastrosos. Como foi o da
última relação da carioca Stella*. O que começou com uma paixão de verão por um
rapaz de outro estado virou um tormento na vida da fisioterapeuta. "Como
morávamos longe um do outro, morria de medo de perdê-lo. Até que ele mudou para
a minha cidade e a coisa saiu do controle", conta. A marcação cerrada para saber
tudo o que o rapaz fazia rendeu cenas públicas de ciúme, brigas sem fim, noites
em claro e intervenção da família e dos amigos. Foi só depois que a relação
acabou que Stella sacou que o problema era ela e procurou terapia. "Hoje vejo
que idealizava e não enxergava defeitos no meu ex-namorado", conta. "Minha
insegurança me fazia imaginar que estava sendo traída o tempo inteiro",
lembra.
Segundo os especialistas, as compulsões não têm cura. O
tratamento começa reconhecendo que você precisa de ajuda. Uma saída é procurar
um grupo de apoio - existem vários, voltados para compulsões específicas e que
reúnem pessoas na mesma situação, o que contribui para enfrentar o problema.
Mesmo sujeita a recaídas, é o start para retomar o comando da própria
vida.
*Os nomes foram trocados para preservar a identidade das
entrevistadas.
OPERAÇÃO DETOX
Com autoconhecimento e coragem para ver o
problema e buscar ajuda, é possível se livrar de uma
compulsão
Admita o problema É preciso se conhecer bem
para perceber quando o hábito nocivo começa a comandar você, e não o contrário.
Escutar os amigos e a família também é fundamental, já que a cegueira para a
doença é um denominador comum em vários tipos de
compulsão.
Entenda as causas As causas do transtorno são
várias: hereditariedade, personalidade, história de vida e até alterações nos
neurotransmissores. Algumas pessoas têm um déficit de dopamina (substância que
garante o bem-estar) e, quando experimentam determinadas situações de prazer,
que elevam os níveis de dopamina no cérebro, podem acabar ficando viciadas,
dependendo do seu estado emocional.
Fuja do perigo
Manter distância de lugares ou situação que desencadeia um episódio de compulsão
é um jeito de evitar tentação. Mesmo que diga a si mesma que vai se segurar, é
comum a pessoa simplesmente não conseguir controlar o
acesso.
Busque ajuda Se abrir sobre o problema com uma
amiga, um parente, um grupo de apoio ou um psicólogo é determinante para
escolher o melhor tratamento.
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